sexta-feira, maio 20, 2005

À luz da noite

Ontem à noite fui a um lançamento em Ipanema. Voltei às onze e, no táxi, passei pela Glória, com as "meninas" trabalhando furiosamente, ocupando todas as calçadas e disputando a tapa as esquinas. Num sinal, o carro encostado no meio-fio, fiquei olhando como elas trabalham. E foi aí que eu vi: uma loura imensa, botas de verniz acima dos joelhos, um biquini que parecia um micro maiô (sei lá descrever aquilo), os seios de fora. Ao lado dela, uma moça que parecia uma crente, saia comprida e coque, deu à prostituta um bebê de uns quatro meses, muito gordinho e lindinho, risonho, as mãozinhas procurando os cabelos louros. "Vai com a Tetê que mamãe depois vai, tá?" E cheirava a bochecha, e tentava não esfregar o rosto ultramaquiado na pele da criança. E o que mais me chamou a atenção: antes de receber o bebê, ela estendeu a fralda de pano no colo, tapando os seios.
Não sei, tem certas coisas que a gente vê, processa mas não sabe o resultado. Até agora, não sei o que pensar. Às vezes, a engrenagem que achamos ter um movimento perpétuo pára e começa a rodar ao contrário. E tudo sai dos eixos. Até o que achamos ser a ordem natural (e preconceituosa) das coisas.