sábado, maio 28, 2005

Sobre a minha letra

 Posted by Hello


Quando eu era adolescente e não existia internet, eu escrevia cartas. Muito poucas. Pré-aborrecente, mantive um diário que não passou de dois dias.
Depois que fui mãe, comecei a escrever cartas. Para as meninas, mas não as envio (mando para elas envelopes cheios de figurinhas, adesivos, revistinhas, tudo com uma cartinha minúscula, com um desenho e o nome delas, e um "Eu te amo" bem grande, que elas já reconhecem como tal). Guardo para imprimir e dar a elas quando forem mais velhas – nessas cartas estão os momentos mais marcantes da infância, como quando Zé Colméia descobriu finalmente o que é a morte e Catatau sentou pela primeira vez.
Escrevo cartas aos meus pais, agradecendo, cobrando, amando. Escrevo cartas ao meu ex-marido, para tentar entender como aquele castelinho que nós imaginamos transformou-se numa cela de tortura tenebrosa. Escrevo ao meu ex-namorado.
Escrevo para quem já se foi (da minha vida e desse planeta), e quanta falta eles me fazem. Escrevo a um amigo com quem forcei uma briga, porque ele se apaixonara por mim – e ele morreu num desastre de carro ano passado, sem saber que ele não fizera nada; e que eu é que nunca tive coragem de dizer a ele que eu queria apenas a sua amizade.
Escrevo aos meus avós; escrevo aos meus bisavós de quem só tenho retratos e uma dedicatória no álbum de batizado.
Escrevo às pessoas que não têm a menor idéia do quanto de bem e de mal me trouxeram.

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