quarta-feira, julho 12, 2006

Letreiros

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Andar pela rua observando o que se passa sempre foi uma das minhas paixões. Indo a algum lugar, mas olhando o que está à minha volta. E foi assim que eu, ontem, quase fui atropelada por um caminhão de mudanças. Mas não era um caminhão qualquer: era da Transportadora "As elegantes andorinhas".
Inventar um nome para um negócio é uma arte perdida - acredito piamente nisso. Porque alguns desses nomes terminam por fazer parte da nossa vida, da nossa história. Assim como "As elegantes andorinhas", faz parte da minha existência a Transportadora Rosas de Ouro - não porque seus caminhões, algum dia, tenham carregado algo meu. Mas porque os carros sempre ficaram estacionados - desde que eu me lembre - num dos canteiros ali onde era o Mourisco, no fim da Praia do Flamengo. Era subir o viaduto - seja no carro dos meus pais, no do ex-marido, de ônibus ou táxi - na certeza de eles estarem lá.
Comprar sapatos (alguns feitos sob medida) no "Motinha", loja que meu pai freqüentou aos 20 anos (ele tem 71); encomendar remédios na farmácia de manipulação "Ao Veado d'Ouro" (que eu vi mudar para "À Botica d'Ouro" por motivos óbvios). Comer docinho no "A Vovó Fez", ou namorar aquele vestido anos 60 no "A Cena Muda".
Lojas são um capítulo à parte. Em Santa Teresa há um bazar onde, como canta Ana Carolina em "Armazém", "tem rodo, tem barbante, tem farinha, pedra-pomes, prendedor, passador, escorredor, esmalte vermelho e tem até couro pra pandeiro" - sem falar nos brinquedos, roupas de festa para crianças, material de papelaria, fitas, linhas & botões, ração para cachorro e o que mais você pensar. Isso tudo espremido em duas portinhas - mas é uma loja de esquina, tenha respeito.
A relação de afeto que se depreende do nome de um negócio passa completamente desapercebida, principalmente nesses dias de "Alguma-Coisa & Co." ou "since 2006". Mas Santa Teresa - sempre ela - tem um jeitinho de me lembrar como um negócio pode ser, antes de tudo, um projeto de vida, como uma família. Perto do Largo das Neves, numa das extremidades do bairro, quem passa de bonde vê, quase na esquina, na parede onde foi um pequeno armazém, uma placa de bronze onde se lê: "Aqui nasceu, viveu e trabalhou vovô".

4 comentários:

anouska disse...

suzana, teu texto é delicioso. você devia escrever na "Focando". pena que lá não tem "l'argent"... (será que é assim mesmo? meu francês é pífio! rs...) bjs

Marilia disse...

que lindo, como vc escreve bem...

bjos

i disse...

Eu, pobre de mim, tenho saudade do Rio como um todo...

Lys disse...

É, realmente os nomes agora dão enjôo: é Ateliê disso e daquilo, Armazém idem, Não-sei-o-quê.com, Não-sei-o-quê do Chopp... Tudo quase igual sempre. Achei que só eu reparava e me incomodava com essas coisas.

Beijo pra ti, querida!