terça-feira, agosto 15, 2006

A criança, a jovem e a velha



Então ela começou a chorar lágrimas.
Quem devia estar chorando era eu, pensei.
Eu disse "Não chore." Ela perguntou "Por que não?" Como eu não sabia por que ela estava chorando, não consegui pensar em uma razão. Será que ela estava chorando por causa dos elefantes? Ou por causa de alguma outra coisa que eu tenha dito? Ou por causa dede alguma coisa a respeito da qual eu nada sabia? "Fico roxa facilmente quando me machuco", ela contou. "Lamento", eu disse.
[...] Surgiu alguém na porta da cozinha e deduzi que era o homem que estava gritando no outro cômodo. Ele só esticou a cabeça extremamente rápido, disse algo que não entendi e saiu caminhando. [...] "Quem era aquele?" "Meu marido." "Ele precisa de alguma coisa?" "Não me importa." "Mas ele é seu marido e acho que ele está precisando de alguma coisa." Ela chorou mais lágrimas.
Me aproximei dela e botei o braço ao redor de seus ombros, como o Pai costumava fazer comigo. Perguntei o que ela estava sentindo, pois é isso que ele me perguntaria. "Você deve achar isso muito esquisito", ela disse."Acho diversas coisas muito esquisitas", falei. Ela perguntou "Quantos anos você tem?" Disse que tinha doze anos - mentira nº 59 - porque queria ter idade suficiente para que ela me amasse.
"O que faz um garoto de doze anos batendo na porta de estranhos?" "Estou tentando achar uma fechadura. Quantos anos você tem?" "Quarenta e oito." "São Nunca. Você parece muito mais jovem." "Obrigada" "O que faz uma mulher de quarenta e oito anos convidando estranhos a sua cozinha?" "Não sei." "Estou sendo chato", falei. "Você não está sendo chato", ela disse, mas é extremamente difícil acreditar em uma pessoa quando ela diz isso.

Jonathan Safran Foer, "Extremanente alto & incrivelmente perto"
Editora Rocco, 2006

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