quinta-feira, setembro 21, 2006

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Sempre gostei de escrever cartas. Mas quase nunca as envio. Escrever cartas dizem mais coisas a nós mesmos do que a quem se destinam.
Quando escrevo uma carta para alguém, abro o coração, o raciocínio, minha vida, minhas frustrações, meus verdadeiros sentimentos. Claro - mesmo vivendo-se com a mesma pessoa por décadas, ela jamais (e isso eu tenho certeza: JAMAIS) saberá tudo o que você pensa. Qual sua verdadeira opinião sobre tudo.
Porque isso magoa a quem amamos. Como dizer ao outro: "Como você pode ser tão cego?" ou "Quando você vai entender que seu pai e sua mãe NÃO vão viver pra sempre, e você não é mais um garotinho pirralhento de cinco anos?" Como você diz: "Filha, eu choro porque seu pai sabe como me magoar, e eu me magôo porque deixo que ele faça isso; às vezes - muitas vezes - sou fraca para dizer 'Você me deu períodos felizes, mas acabou' e eliminar o poder que ele ainda tem sobre mim"?
Não dizemos. Eu não digo. Pelo menos, não agora. Mas então, isso fica ali dentro de mim, indo e voltando, se arrastando e se lamentando, até que eu deixe que encontre pouso numa carta. Ali, explicado, em todas as palavras, sem metáforas, meias-medidas ou sutilezas.
Ali fica a verdade. A minha verdade. Sou eu, em essência, pois somos feitos de verdades e mentiras - que, em nós, nada mais são que verdades disfarçadas para que não as reconheçamos. O jogo é descobrir onde ela estão, despi-las e deixá-las fazer o que tem que ser feito.

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