quarta-feira, dezembro 26, 2007

Por último

Uma das coisas que minha avó dizia era que, se você não tem nada de bom a dizer, não diga nada. Faz tempo que tenho pensado em mudar o status do meu Breviário para que só eu possa ler. Porque faz tempo que eu não tenho nada de bom para dizer. E as pessoas, quando lêem o que eu escrevo, também não têm o que dizer. Dizer o quê?

Passei o Natal sozinha - as meninas foram para a casa do pai. Nunca tinha passado o Natal sem elas. E como doeu. Não montei a árvore, não pendurei a guirlanda na porta, não botei as meias vermelhas na janela. Nunca imaginei que me sentiria tão profundamente triste como me senti.

Como estou sem dinheiro, comprei duas camisolas de uma vizinha, embrulhei os livros que sobraram ainda do tempo em que eu ainda recebia livros infantis, duas bolsinhas compradas em camelô e foi isso. E sentia muito medo de elas não gostarem de nada, de acharem tudo insignificante perto do que ganhariam na casa do pai.

Elas voltaram ontem carregadas de presentes. Cada uma segurando a sua Miracle Baby - R$ 300 reais cada - muitos brinquedos, roupas, vestidos, walkie talkie da Xuxa, bichinhos que ronronam e andam. Tudo jogado nas sacolas das lojas dos outros presentes trocados na casa do pai: Cantão, Sacada, Imaginarium, M. Officer, Osklen.

Dei os meus presentes, esperando que elas gostassem; Catatau me abraçou e disse que era a camisola mais linda que ela já tinha visto; Zé Colméia despejou tudo da sua bolsa antiga e encheu a nova.

E foram dormir. E eu dormi abraçada com elas, pensando e pedindo que 2008 seja melhor. Seja de menos dor, mais comida e descanso, mais alegrias e menos preocupações.

Hoje de manhã, tomando banho para ir trabalhar, tudo subiu de uma maneira tão brutal que vomitei na banheira. Tremia inteira de tanto ódio, de tanta amargura pela lembrança dele dizendo à juíza que ele mal ganhava para viver. E as sacolas dos presentes. E as duas bonecas a R$ 600. E eu chorei até meus olhos secarem embaixo do chuveiro. E eu desejei que ele morresse, e eu odiei o Natal. E odiei minha vida, tudo o que eu vivo hoje. Odiei, odiei, odiei.

Porque eu pedi de Natal, quando estava sozinha na minha cama, ouvindo os vizinhos comemorarem e rirem e desejarem-se paz, que eu não odiasse mais. Que eu tivesse apenas coisas boas e alegres e cheias de otimismo para escrever aqui. Que eu pudesse lidar melhor com a incapacidade de trabalhar mais, de arranjar um emprego decente que me desse um plano de saúde, dinheiro para alimentar minhas filhas corretamente, para não dever mais nada a ninguém, que me desse novamente satisfação, que me desse a oportunidade para ser disponível para alguém.

Que eu pudesse recuperar na alma os anos que eu deixei pra trás. Que eu pudesse ser novamente a mulher que eu era, que achava coisas boas em tudo, que raramente achava motivo para chorar. Que não maldizia ninguém, que era batalhadora, briguenta, forte, vivaz.

Eu não quero escrever mais isso aqui. Eu quero desejar Feliz Natal e próspero Ano Novo como todo mundo. Não quero odiar meu ex-marido por ele fazer o que faz. Não quero mais me sentir incomodada com a felicidade dos outros. Com o riso dos outros. Com a paz dos outros.

Eu quero a minha própria paz.

12 comentários:

Anônimo disse...

Suzana,
Se você parar de escrever aqui, respeito, mas por mais que realmente às vezes seja difícil ter o que dizer, juro que leio pensando que vai ser tão bonito ler a sua 'volta por cima' - que vai vir. Torço muito, muito por você(s).
Beijos e muita paz,
Solange
P.S. adorei a dica das pilhas! Pena que só li na volta, mas da próxima...

Anônimo disse...

Fica assim não ,eu sei e entendo o que vc sente mas não deixe que seu ex interfira no seu bem estar interior.E não pense que ele é só felicidade, é não boba ,uma pessoa que faz o que ele faz no fundo não é feliz.O tempo passa,o mundo gira,e no momento certo tudo vai mudar vc vai ver.Torço por vc e não deixe de escrever não.Tenha um ano cheio de sonhos realizados,muita sabedoria e discernimento!!Bjus

Anônimo disse...

Querida, criança é a coisa mais pura e difícil de enganar que existe no mundo. Presentes dados só por dar, sem amor, carinho podem ter o valor que for que com certeza não deixarão uma criança tão feliz quanto aqueles dados com a alma... E só desejo à você para esse Novo Ano que chega força, fé e esperança de que por mais difícil e demorado que pareça, essa tempestade passa. Sempre passa.

anouska disse...

...e você, com certeza, vai encontrar a sua paz, suzana. porque você já descobriu que esse ódio todo está consumindo você mesma. e você não merece isso. fique com deus. bj

Maria Angélica disse...

Não sei o que comentar... fico sem palavras, parece que qualquer coisa que eu disser será pequena e sem sentido...

Mas lembra daquele convite que você me fez? De sairmos com nossas filhas? Vamos fazer isso na primeira semana de janeiro?

Um grande beijo

Anônimo disse...

Realmente não é fácil. Eu como filha de pais separados já me vi muitas vezes odiando meu pai, meu próprio pai. Sim, muito estranho isso, mas como ele pôde dizer à juíza que ganhava mal se viajava 2 vezes por ano pra Europa, se tinha carro do ano? Não deu pra entender. Até que me vi com a faca e queijo na mão. Eu podia pegar tudo que ele me ensinou, batalhar e ganhar o meu ou apenas ficar lamentando que as coisas não são fáceis. Foi então que reuni tudo que eu tinha, inclusive a educação que ele me deu e cresci. Hoje sou formada, publicitária e vivo bem com ele, apesar de tudo. Nada foi em vão. Ah, e eu o amo hoje como o amava há 15 anos atrás. Talvez até mais... Parei de tentar achar solução pra mesquinharia dele e resolvi amá-lo, porque nem os pais são perfeitos.

O mais importante é dar a volta por cima e eu sei que você vai conseguir. Não é fácil, não mesmo... mas é preciso levantar no dia seguinte mesmo com a alma dolorida e o coração partido. O mundo não vai parar pra esperar você curar a sua dor.

Ah, e suas filhas um dia irão crescer e te agradecer porque você deu a elas mais do que presentes caros, você deu a elas AMOR.

felizes dias no próximo ano, que não falte coragem pra seguir adiante e óh deixe aqui suas palavras porque elas fazem sentido!

bjs, com carinho!

Ass. Deborah

anouska disse...

ah, e o pedro chega amanhã pro reveião. quer marcar alaguma coisa? ele fica até o dia 5 de janeiro. eu vou estar ocupada e ensandecida corrigindo trabalho de aluno até o dia 3. mas nem se preocupem comigo. me liga. bjs

Anônimo disse...

Ô Su (Ju),

Se você me permite, vou pensar se conheço alguma oportunidade profissional interessante pra você.

No mais, beijocas e, querendo um chope, tamusaí.

Regina Angleri disse...

Suzana...
Em 2008, comece de alma lavada. Não deixe que esse tipo de homem que é o seu marido, tire o seu brilho. Dê espaço e vazão pra essa mulher tão forte que há em você e vá a luta! Seu ex marido, ao que parece, machuca onde tem doído mais: o financeiro, pois é isto que permite que vc dê o minimo de conforto pras suas filhas. Então, continue batalhando, que nada é em vão. Vc tem bons amigos e é uma profissional gabaritada. Vai aparecer algo; a maré vai mudar; vc vai vencer e essa Suzana vai vir a tona pra nunca mais sair!!!!

Que em 2008, um grande amor venha pra coroar tudo isso!!!
Grande beijo!!!!

parla marieta disse...

Suzana, querida. Eu admiro você de montão. Acho que você "muito" mãe. Suas meninas terão uma grande herança sua. Não sei o que seu ex faz, mas eu sei o que VOCÊ faz, e é isso que interessa. Eu também já senti isso de ouvir vizinhos e ver amigos se "confraternizando" no natal e eu me remoendo de ódio, de mal estar, de raiva, sei lá mais do que. Não digo que isso passa, mas digo que ameniza. O mais importante é que você tem inteligência pra saber e assumir o que sente. Dane-se o resto.
Suas filhas são maravilhosas, e serão sem dúvida o espelho DA MÃE que elas têm.
Beijos e não deixe de dividir conosco suas alegrias e dores. Só assim, a gente percebe que "é normal". Capice?
Beijos

Unknown disse...

Chorei, chorei, choro lendo esse post. Putz, acho mesmo que não é um bom momento para ler seu blog... Me preparando para passar extamente pelo que vc passou, sem saber se terei peito para suportar.

K disse...

Puxa, não da para imaginar.Quando meu marido(?) ainda era realmente um ex, quando eu nem deixava ele subir para pegar os bebês,ele me dava tudo o que ganhava, absolutamente tudo.Ficava apenas com o essencial para viver mal.Morava, (na verdade ainda mora), num quarto/banho num alojamento para estudantes e não almoçava.Então nao da para imaginar um ser humano fazer isso com as proprias filhas.