segunda-feira, janeiro 04, 2010

A falta que faz



Eu sinto saudades de pessoas. Gente que eu nunca mais vou ver, que eu não sei se ainda está por aqui ou se um dia aquela sensação de injustiça vai desaparecer. Tenho saudades do cheiro de pinheiros que eu sentia quando chegávamos a Teresópolis, eu e meus irmãos espremidos no banco traseiro do Karman-Ghia do meu pai. Saudades do copo-estrela, um copo alto e último da espécie onde minha mãe botava uma medida de sagu para fazer o mingau que meu pai tomava antes de ir para o trabalho, as manhãs ainda escuras e silenciosas.

Sinto falta de andar em silêncio ao lado de alguém. Sinto saudades de amamentar, de Catatau segurando meu dedo mindinho enquanto bamboleava os primeiros passos, de Zé Colméia dormindo aninhada na curva do meu pescoço, de comprar vestidinhos enfeitados de margaridas ou sapatinhos com joaninhas de feltro.

Sinto saudades de cozinhar nas férias para uma multidão. De tomar sol até a pele arder, de estudar, de desenhar, de ter um diário escrito, de aprender caligrafia. Da minha cadela querida, dos meus avós, da comida da minha mãe, dos beijos das minhas filhas, do carinho daquele que porventura dormisse entre os meus cabelos.

Quando todo mundo fala em renovar, em (re)começar, eu ainda não consegui terminar, mesmo que queira. E eu, sinceramente, não quero.

Um comentário:

Manu disse...

Muito disto aí você ainda pode (re)viver. E quanto ao resto, não creio que (re)começar signifique esquecer, afinal nossas lembranças fazem parte do que somos.
Também sempre sinto muitas saudades de tudo o de bom (e até de algumas coisas não tão boas assim) que me aconteceu. E não acho que isto seja tão ruim. Não que queira voltar no tempo. O que passou, passou, cada momento teve seu lugar. Mas gosto de me pegar relembrando, sentir saudades...
Só para dizer que te entendo bem.
Bjs.