terça-feira, setembro 11, 2012

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 Sempre me disseram que adolescência pode ser dor e delícia. Eu tenho os dois. A delícia com a caçula, a dor com a mais velha. Todo santo dia, abrir os olhos significa a luta - para ter a última palavra, para o desafio mudo, para a malcriação velada, para o desrespeito sussurado pelas costas. "É fase", todo mundo me diz.

A rédea curta é imediatamente solta e lançada ao vento na casa do pai. TV até as 3h da madrugada e sem autocensura no controle remoto (afinal, ela tem 13 anos e fica sozinha, enquanto a casa dorme), netbook a mil durante todo o fim de semana em qualquer ponto do apartamento.

Ontem ela voltou do fim de semana com meu ex me chamando pelo primeiro nome. Respostas tortas, tom de voz petulante, agredindo verbalmente a irmã ("gorda" foi o mais suave que saiu daquela boca). Então, no elevador da casa dos meus pais, dei meia dúzia de palmadas nela. Batia sem pensar, sentindo uma raiva cega, espumante. Por um momento, eu odiei aquela menina. Minha filha adorada. Saí daquele cubículo, parei um táxi, nos enfiamos as três e ela, de mochila e uniforme, foi despejada na portaria do trabalho do pai. Assim que ele apontou na porta do elevador mandei o táxi seguir.

Cheguei em casa e chorei. Minha caçula chorou comigo o meu fracasso. Não sei se minha filha foi à escola. Não sei se tem roupas limpas, se tomou café da manhã, se tem o material necessário para assistir aula, hoje. Não sei de nada.

Só sei que sou humana, e que isso não me consola. Deveria ser mãe, antes de tudo.

9 comentários:

Tina Lopes disse...

Quem me dera saber o que te dizer. Mas acho que tua reação pode ser um alerta pra ela. Porque ela também deve entender que precisa ser filha e irmã. Ai, só te abraço.

Anônimo disse...

De uma filha que já foi uma adolescente insuportável e rebelde:

isso passa. E depois, já adulta, ela vai te pedir perdão por ter te feito chegar ao limite.

Um abraço apertado.

Raquel (NY) disse...

De outra filha que foi adolescente insuportavel e rebelde: passa e o pedido de perdao vai chegar, como disse a Eve. E doi nela tambem, por mais dificil que seja para voce acreditar nisso agora.
Mais um abraco para voce.

Carol Leocadio disse...

Fui uma filha banana (nessa idade pelo menos) e tenho cada vez mais medo de ter filhos por causa da minha inaptidão pra lidar com eles. Então não posso dar conselho. Mas eu fico boquiaberta com a sua forma inteligente de lidar com elas. Se você se descontrolou dessa vez, se descontrolou e já foi. Ninguém é tão de ferro assim, nem mesmo você. Vocês duas vão aprender com isso e superar. Como tudo, vai passar. Abraço apertado também.

Liliane Gusmao disse...

Não há mais palavras do que as que,já foram ditas. Um abraço apertado, e o desejo sincero que tudo fique bem!

Anônimo disse...

Poxa vida, imagino o quanto dói. Eu fui uma filha terrível para os meus pais e mereci todas as palmadas que levei. Mas bater no filho, você sabe, ainda não significa boa criação. E não adianta muito.
Maldita fase, verdade. Mas peça desculpa também você. Acredite: sou uma filha ressentida, não dos tapas que levei, mas das marcas ausentes de um "eu te amo" que nunca veio.
Abraços.

Suzana Elvas disse...

Nina, eu sempre peço desculpas. Sempre disse às minhas filhas que bater nos filhos é a maior das covardias, porque a criança não pode se defender - ela é a parte mais fraca. Mas que também a palmada é a única maneira (mesmo que irracional) de parar com aquela tortura que é uma criança que ultrapassa todos os limites.
O problema não é pedir desculpas. O problema é que eu não me desculpo.

Patrícia Siciliano disse...

Acho que você pode acreditar que é mãe, antes de tudo. Você sabe que dar limites é mais amor do que parece.
Tenho um menino de 7 e uma bebezoca de 1 ano e meio. Todo dia digo a ele que a pior coisa de ser mãe é ter que dizer não o tempo todo, justamente àquela pessoa que você mais ama na vida, para quem você preferiria ser só sim...
O pior é não haver acordo entre as partes. A coisa que eu mais preso aqui é falar a mesma língua que o pai. Será que não é possível conversar com ele? Me parece que ela está impossível sim, mas que ele tem uma parcelona de culpa aí. Ele, não você.
Vai ficar tudo bem. De uma mãe apaixonada para outra.

anouska disse...

Nossa, Suzana. Você é muito corajosa em expor a sua [a nossa, porque também sou mãe] fragilidade para lidar com essa situação. Sou solidária a você. Como você, não acredito que palmada resolva nada; é um recurso extremo e desesperado, muito mais um pedido de ajuda de alguém que não sabe como lidar com aquele ser humano. Imagino o que você está sentindo. Há pouco tempo, conversando com um amigo no Twitter, soltei uma frase boba, disse que tinha merecido as palmadas que levei porque fui uma criança e adolê muito, muito rebelde e intratável. Não julgo a minha mãe porque sei como ela deve ter sofrido para me educar. Na mesma hora algumas pessoas vieram me crucificar e dizer que afirmar aquilo era 'patético' e que eu devia me envergonhar de defender palmada como solução, coisa que nunca disse em toda a minha vida. Acho que pra quem assiste a maternidade alheia de camarote é muito fácil ter milhares de teorias na cabeça. Eu também tenho em relação a outras áreas da vida em que tenho experiência quase nula. Mas é preciso um mínimo de empatia pra nos colocar no lugar do outro e entender o sofrimento dele. Repito: não acho que palmada resolva nada, mas você tem a minha empatia. Nessas situações não há vencedor possível. Todos sofrem, mas eu te digo: vai passar e você vai ter sua filha de volta. Daqui de longe te abraço.